Segunda-feira, 06.06.11

A Pergunta Que Ninguém Fez

Ontem assisti com entusiasmo, quase de basbaque, a um episódio único da vida política nacional. Houve eleições. Em poucas palavras poderia dizer que se substituiu um tirano institucional por uma marionete.
Toda a gente esperou pelo discurso de derrota de José Sócrates, todos ansiosos de agir só depois, numa cobardia ímpar, com receio de retaliações fosse o caso de Sócrates continuar a querer dar cartas. Valeu a pena a espera.
José Sócrates falou à Nação. Falou como ninguém tem falado desde… Francisco Sá Carneiro. Sagaz, intenso, emocional, inteligente, discursou… melhor desmarcou-se, demonstrou que não há ninguém na paisagem nacional que se compare, um pouco como um hipotético Cristiano Ronaldo a dizer adeus ao Futebol no Estoril Praia porque os colegas de equipa se queixavam que ele não passava a bola a ninguém!
José Sócrates fez mais pelo PS ontem em 30 minutos do que o Mário Soares durante 30 anos. Por momentos ficámos todos a pensar que o PS é um partido cheio de gente interessada unicamente no progresso do País, altruísta, com valor. O encanto evaporou-se minutos depois com a “aparição” de António José Seguro no jogo do “vou mas não posso dizer que vou”. Irreal.
O ex-Primeiro-Ministro é um político ímpar. Durante anos governou o País e intimamente gozou com todos sabendo que os seus pares não tinham a menor paridade. Usou a máquina política e mediática para transformar o PS num agrupamento de interesse só comparável a defuntos partidos da Primavera árabe ou pseudo-democracias africanas tipo MPLA ou ZANU. Governou desta maneira porque pôde, porque sabia que as malhas da Democracia Portuguesa e os ínfimos rivais o permitiam, o autorizavam, o legitimavam. Sabia também que a classe dirigente e satélites se dedicam numa quase exclusividade à obtenção e acumulação de regalias e benesses. Havia “dinheiro em caixa”… deu-se! Também sabia que quando o dinheiro se acabasse não poderia manter o status, não poderia calar as vozes e invejas da gentinha que ele desprezava porque o desprezavam, ao Rei Merceeiro, sem curso, sem fidalguia, sem genealogia.
Repararam no ar de desespero quando os jornalistas lhe fizeram perguntas idiotas? Viram o balão de diálogo por cima da cabeça “Não há mais ninguém com miolos por aqui?”
Houve uma pergunta que ninguém fez, a única que teria de certo modo encravado José Sócrates e que adoraria ter ouvido a sua resposta. Seria assim:
“Senhor (ex)-Primeiro-Ministro. Disse que ama o País, que trabalha e admira o trabalho e contribuição para a Democracia Portuguesa do Partido Socialista e que fez e faria tudo pelos dois. Se assim é porque é que não se demitiu de Secretário-Geral antes das eleições e deixou o PS ir às urnas consigo à frente, dando-lhe esta derrota?”
Há duas respostas. A primeira foi um erro de julgamento de José Sócrates, de pensar que tinha uma chance, que os eleitores acreditavam no seu trabalho e o recompensariam. A segunda… Sócrates sabia que ia perder e quis punir o PS, quis pôr uma quantidade de lastros inúteis fora de São Bento, de fazer uma razia num Partido que cada vez mais desprezava. Qual a mais plausível? Se o conhecem só pode ser a segunda!!!
… e agora cansou-se, quem não ficaria cansado? E vai-se embora a sorrir, a ver um novo Primeiro-Ministro que tem menos personalidade e estatura que o Scott Tracy dos Thunderbirds. E será que volta? Talvez, mas só quando der mesmo luta!
publicado por Paulo Ferreira às 12:35 | ligação do post | comentar
Terça-feira, 31.05.11

Baralhar de novo

Não, eu não voto! Dirão alguns porque não posso, porque estou “desterrado” e nunca tive pachorra para tomar parte na bela democracia portuguesa por controlo remoto. Votar para os deputados do “Círculo Europeu” tem um sabor mais... europeu? mas não soa nem cheira a Lisboa.
Não, eu não voto! Não posso fazer parte, ser cúmplice de uma farsa eleitoral onde a palavra Democracia está escondida sob estratos de duplicidade, inutilidade, enganosa publicidade, de conversas de Poder que não têm força nenhuma e só servem para auto-promoção mediática.
Não, eu não voto! Estas eleições têm sido “vendidas”, apregoadas em sites sociais, com milhares de seguidores confirmando que vão votar sim senhor (em quem, para quê, digo eu) e com entusiasmo cego estão simplesmente a dar legitimidade a qualquer que seja o resultado final, que no final só tem dois sabores, lima ou limão, amargos de boca...
Não, eu não voto! Votar neste Domingo é dizer que esta D(d)emocracia tem valor, que vale a pena correr o risco de nada mudar, de deixar as actuais camadas dirigentes continuarem a dirigir e autenticá-las pela pequena folha de A5 dobrada aos milhares, amedrontados pelo pregão “se não votares deixas os outros decidirem por ti”. E nós fomos sempre condicionados a não deixar nada para “os outros”. Não gostamos nada mesmo dos “outros” de ser paus-mandados pelos... "outros". Será por isso que sempre escolhemos (embora o verbo escolher seja enganoso) os mesmos “estes”?
Não, eu não voto! Porque não há nada para escolher, porque acredito que neste Domingo “os outros” não vão aparecer também. Sendo assim, a Democracia poderá recomeçar finalmente; não só teremos de baralhar de novo mas usar um baralho novo, sem cartas viciadas.
publicado por Paulo Ferreira às 14:15 | ligação do post | comentar

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